O Bac bo jogo talvez não seja o termo mais associado ao universo dos games digitais, mas ele nos lembra como os jogos de azar e os de habilidade compartilham um espaço que, por muito tempo, foi considerado masculino. No entanto, as estatísticas mais recentes escancaram um cenário diferente: as mulheres já representam 51% do público gamer no Brasil, de acordo com a Pesquisa Game Brasil 2022. Esse dado, por si só, já desmonta qualquer estereótipo sobre quem realmente joga.
As mulheres dominam o espaço mobile, com 60% das jogadoras preferindo o smartphone como plataforma principal. Mas não para por aí — nos computadores, a presença feminina chega a 41,1%, enquanto nos consoles alcança 36,1%. Isso mostra que, mesmo diante de um histórico de exclusão, elas estão ocupando todos os espaços disponíveis.

Por outro lado, nos esportes eletrônicos — o chamado e-sports — a presença feminina ainda é tímida. Isso não por falta de habilidade, mas por barreiras culturais e estruturais que ainda limitam o acesso e a permanência das mulheres nesses ambientes altamente competitivos. Felizmente, esse cenário vem mudando, impulsionado por figuras femininas que se destacam profissionalmente e por iniciativas que buscam criar espaços mais seguros e igualitários.
A infância molda muitos dos nossos interesses, e com os videogames não foi diferente. Durante anos, a indústria alimentou o mito de que esses produtos eram “para meninos”. Isso impactou diretamente o acesso: apenas 16% das mulheres tinham um PlayStation na infância, contra 29% dos homens. A diferença não está apenas no acesso, mas também na forma como os gêneros se relacionam com os jogos desde cedo.
Essa lacuna se mantém na vida adulta. Só 25% das mulheres se reconhecem como gamers, número bem menor que os 42% dos homens. Além disso, para escapar do assédio e da hostilidade, muitas jogadoras adotam nicknames masculinos ou neutros nos ambientes online — uma tática de autodefesa que evidencia o quão tóxica pode ser a comunidade gamer para quem não se encaixa no “padrão”.


A hostilidade não para por aí. Mais de 30% das mulheres relatam já ter sido alvo de comentários misóginos, assédio sexual ou violência verbal enquanto jogavam. Um ambiente que deveria ser de lazer, diversão e competição justa acaba se tornando um campo minado para quem é mulher.
Uma das formas de resistência mais notáveis é o crescimento de movimentos que combatem essas desigualdades. A campanha #MyGameMyName, por exemplo, deu voz a mulheres que enfrentam diariamente o machismo no meio gamer. Essa pauta, inclusive, tem tudo a ver com temas abordados no blog da 777Bet.io.
Mesmo diante das adversidades, as mulheres continuam jogando, criando conteúdo, vencendo campeonatos e inspirando outras meninas. Isso não é só sobre games, é sobre ocupar espaços e exigir respeito onde sempre foi negado. E cada jogadora que não se cala, que continua participando, contribui para transformar esse cenário.
Elas jogam, elas lideram
Em um cenário que por muito tempo foi dominado por homens, cada vez mais mulheres têm deixado sua marca — e com autoridade. Nomes como Scarlett, campeã de StarCraft 2 com mais de 434 mil dólares em prêmios, são um tapa na cara de quem ainda acha que jogo é território masculino. Scarlett começou em ligas femininas e hoje figura entre os nomes mais respeitados do e-sport internacional.
No Brasil, o impacto é igualmente notável. Teca, por exemplo, não só foi a primeira brasileira campeã mundial de eFootball, como também abriu caminho para outras mulheres no cenário de jogos de futebol digital. E não para por aí: Sher, conhecida como Transcurecer, foi pioneira ao se tornar a primeira mulher trans contratada por um time profissional de e-sports, além de idealizar a Copa Rebecca Heineman para jogadores trans e não-binários.


Há ainda figuras como Mayumi, ex-jogadora de League of Legends que hoje tem mais de 350 mil seguidores na Twitch, e Gab, estrela do Rainbow Six no Brasil. Ambas são exemplos de talento e consistência, e mostram que não existe um “estilo feminino” de jogar — existe jogo bem jogado, ponto.
E se engana quem pensa que elas se limitam a nichos. Mii Esquierdo, streamer da LOUD, reúne milhões de seguidores e atua em jogos como Free Fire e Fortnite. Já Liooon e Mystik representam o poder feminino em Hearthstone e diversos outros títulos, consolidando um recado claro: elas jogam e elas vencem.
Representar é resistir
Quando se fala de videogames, a representatividade feminina não é só uma questão de imagem. É sobre se ver em um espaço onde, por décadas, a presença feminina foi apagada ou reduzida a estereótipos. Em uma pesquisa recente, ficou claro que mulheres reagem com mais desconforto à sexualização de personagens do que os homens — e isso tem explicação.
Enquanto 61% dos homens disseram se interessar mais por jogos com capas sexualizadas, apenas 39% das mulheres compartilharam essa mesma empolgação. Para elas, ver uma personagem com roupa apropriada para o combate e com protagonismo narrativo faz muito mais sentido do que uma capa que destaca o corpo como apelo visual.
Mesmo assim, muitas jogadoras ainda valorizam o fato de haver uma personagem feminina, mesmo que mal representada. Esse desejo de identificação é tão forte que supera, em parte, o incômodo com a forma como a personagem é apresentada. Isso revela como a representatividade importa — e muito.
Contudo, além do aspecto visual, existe um impacto cognitivo mais profundo: desde cedo, meninas são menos incentivadas a jogar games de estratégia ou ação, que ajudam a desenvolver raciocínio lógico. Isso pode afetar até o interesse por carreiras em ciência e tecnologia no futuro. Por fim, uma disparidade que começa nos jogos, mas que ecoa muito além da tela.