Boruto amadureceu? O que muda na narrativa de Two Blue Vortex
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Boruto amadureceu? O que muda na narrativa de Two Blue Vortex

Com Boruto: Two Blue Vortex, o mangá parece finalmente assumir um tom próprio, distanciando-se da sombra de Naruto. O salto temporal não foi apenas uma solução estética ou comercial, mas uma decisão narrativa que alterou o ritmo da história, a condução dos personagens e o tipo de conflito apresentado.

Em vez de se apoiar em combates incessantes ou em heranças familiares, a nova fase investe em tensão, silêncios e consequências, elementos que sugerem uma proposta mais madura. Mas será que essa mudança é profunda ou apenas uma nova camada em cima da mesma estrutura juvenil? Ao analisar o ritmo narrativo atual do mangá, algumas respostas começam a emergir.

Foto: Divulgação/Shueisha

Uma nova cadência para a história de Boruto Two Blue Vortex

A mudança mais perceptível em Boruto Two Blue Vortex está no ritmo. Na fase anterior, o mangá frequentemente alternava entre tramas episódicas, momentos cômicos e conflitos rasos, com um pé no slice of life e outro nas fórmulas clássicas de shounen. Já na fase atual, o mangá trabalha com uma cadência mais lenta e carregada de tensão. O mangá revela as informações aos poucos e constrói o clima antes de entregar qualquer resolução imediata.

Esse novo ritmo parece ter como objetivo reforçar a gravidade do momento atual: Boruto é agora um foragido; Kawaki, um suposto herói; e todos vivem sob uma inversão de memória que distorce suas relações anteriores. O foco não está apenas em “o que acontece”, mas em como e por que as coisas estão acontecendo daquela forma.

Um protagonista (enfim) definido

Durante boa parte de Boruto: Naruto Next Generations, o protagonista lutava não só contra inimigos, mas contra sua própria identidade narrativa. Ele oscilava entre ser um reflexo do pai, um garoto genérico e um herói relutante. Em Two Blue Vortex, Boruto começa a assumir um papel mais consistente: ele é alguém que carrega o peso da distorção da verdade, da perseguição e do medo do fracasso. Suas ações, agora, não nascem de impulsos ou teimosia, mas de cálculos, desconfianças e trauma.

A diferença está no olhar. Boruto já não tem o mesmo brilho no rosto, e isso é visível tanto na arte quanto nos diálogos. Ele é mais econômico nas palavras, mais direto nas decisões e menos suscetível à ingenuidade. Essa transformação torna o personagem mais crível, mais humano e mais interessante de acompanhar.

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Kawaki e a moralidade cinza em Boruto Two Blue Vortex

Se antes Kawaki funcionava como o típico anti-herói, agora ele ocupa uma posição muito mais ambígua. A inversão de papéis entre ele e Boruto, com a ajuda da manipulação das memórias pela Eida, coloca Kawaki em um lugar moralmente instável: ele é admirado por aqueles que não lembram do que ele fez, mas segue agindo com frieza e paranoia.

Essa camada de complexidade é reforçada pelo modo como o mangá retrata suas escolhas. Kawaki não é retratado como um vilão caricato, tampouco como alguém redimido. Ele age por convicção, mas sua visão de mundo está distorcida pelo medo de perder Naruto e por uma ideia extremista de proteção. A presença dessa ambiguidade moral reforça o aspecto mais maduro da nova estrutura narrativa.

kawaki boruto two blue vortex
Foto: Divulgação/Shueisha

Sarada, Mitsuki e o peso da ausência

A nova fase também exige paciência do leitor em relação a certos personagens. Sarada começa a ganhar espaço como uma figura de ruptura: ela lembra da verdade, desafia as autoridades e tenta agir como elo entre o passado e o presente. No entanto, seu protagonismo ainda é pontual. Mitsuki, por outro lado, foi praticamente silenciado — um movimento frustrante, mas coerente com a proposta da trama de trabalhar tensão e mistério.

Essa ausência não é gratuita: ela serve à estrutura de suspense que o mangá escolheu construir. Ao manter certos personagens fora de cena ou sob controle emocional, Two Blue Vortex amplia a sensação de instabilidade e torna o universo mais imprevisível, mais inquieto. Isso pode afastar quem esperava ação constante, mas conquista quem busca densidade.

Boruto Two Blue Vortex 21 Spoilers completos revelados
Foto: Divulgação/Shueisha

Vilões, ameaças e o subtexto

Os novos inimigos não são apenas obstáculos físicos. Eles funcionam como metáforas de um mundo em ruínas, de uma juventude deslocada e de um sistema de poder quebrado. Além disso, o mangá não se limita a exibir lutas; ele sugere que há mais em jogo do que a vitória ou a derrota: há ideias conflitantes sobre destino, identidade e legado.

Esse subtexto era praticamente inexistente na fase inicial de Boruto, onde tudo parecia girar em torno de “proteger a vila” ou “mostrar que sou forte”. Agora, os capítulos trazem camadas simbólicas, com temas como distorção da verdade, isolamento emocional e sobrevivência psicológica.

Aposta de longo prazo?

Boruto: Two Blue Vortex ainda está em seus primeiros capítulos, e é cedo para afirmar se essa estrutura mais madura será sustentada até o fim. A serialização mensal impõe um desafio: manter o interesse sem grandes eventos semanais. Mas se a equipe criativa mantiver o investimento na construção de tensão, nas ambivalências morais e no foco emocional, há chance real de transformar Boruto em um mangá mais relevante, não apenas um sucessor de Naruto, mas uma obra com voz própria.

Se o plano der certo, o mangá pode finalmente conquistar respeito até de quem abandonou a leitura anos atrás. E se falhar, ao menos terá tentado algo que a fase anterior jamais ousou: levar seu mundo e seus conflitos a sério.

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