Lançado em abril de 2025 e rapidamente alçado ao posto de sucesso do ano, Clair Obscur: Expedition 33 conquistou fãs com uma mistura envolvente de combate por turnos, trilha sonora marcante e uma história densa sobre dor, arte e escolhas. Desenvolvido por um pequeno estúdio francês, Sandfall Interactive, o RPG se destacou não só por sua estética, mas também pela profundidade emocional com que trata temas como perda, luto e memória.
A trama gira em torno da cidade fictícia de Lumiére, onde todos os anos pessoas com certa idade são apagadas da existência por uma entidade chamada A Pintora. Para evitar esse destino, expedições são enviadas com o objetivo de destruí-la. No entanto, o que parece uma missão épica, se revela uma viagem íntima sobre os fantasmas que perseguem uma família marcada por tragédias.

A tragédia dos Dessendre e a origem do mundo dentro da tela
O coração da narrativa está na família Dessendre, um clã de artistas conhecido por suas habilidades únicas: os membros são Pintores, capazes de criar mundos vivos dentro de telas. O jovem Verso, filho do casal Renoir e Aline, morre após um ataque da facção rival, os Escritores. Alicia, sua irmã, sobrevive ao incêndio, mas fica gravemente ferida. A perda abala profundamente a família, principalmente Aline, que se refugia no último quadro pintado por Verso, onde ele havia projetado uma nova realidade.


Dentro dessa tela, Aline permanece, recusando-se a retornar ao mundo real. Renoir tenta destruí-la para libertar a esposa da ilusão, mas falha. É nesse processo que nasce A Pintora, figura central do jogo. O conflito entre o casal dentro do quadro dá início ao que os moradores de Lumiére chamam de Fratura, evento que isola a cidade e marca o início dos apagamentos anuais, ou Gommage.
Para manter vivo o mundo de Verso, Aline cria versões pintadas dos filhos e do marido. Esses clones, embora artificiais, possuem sentimentos e memórias, mas não estão isentos de sofrimento. A falsa Alicia, agora chamada Maelle, se junta à Expedição 33 sem saber de sua origem. Ao longo do jogo, ela recupera sua identidade e ganha os mesmos poderes de A Pintora. Maelle precisa então escolher entre continuar alimentando o mundo criado por Verso ou libertá-lo.


Verso, cuja alma fragmentada mantém viva a tela, deseja o fim daquele universo, cansado de existir apenas como lembrança. A escolha final do jogador define o rumo da narrativa: manter o mundo pintado ao lado de Maelle ou apagá-lo com Verso, encerrando o ciclo de luto da família.
Dois finais, duas mensagens: apego ou superação
Ao escolher Maelle, o jogador preserva Lumiére. Os personagens voltam à vida, o cenário renasce e há uma aparente paz. No entanto, o sofrimento persiste. O clone de Verso, agora mais velho, toca piano diante de uma plateia, mas seu olhar denuncia o fardo de sustentar uma ilusão. Maelle, com uma máscara sobre o rosto, ignora a dor do irmão. A realidade é reconstruída, mas à custa da liberdade da alma de Verso.


Já ao optar por Verso, o mundo se desfaz. Maelle desaparece e os membros da família Dessendre retornam ao mundo real. Pela primeira vez em décadas, eles enfrentam a dor sem fugir dela. O túmulo de Verso simboliza o fim do ciclo de negação e o início de um novo caminho, marcado por luto consciente e cura. A memória do filho não é apagada, mas ganha outro lugar: fora da tela, no real.
Por que Clair Obscur: Expedition 33 é mais do que um RPG
Além de seu sistema de combate fluido e ambientação visualmente deslumbrante, Clair Obscur: Expedition 33 se destaca por tratar de forma madura temas delicados como a perda de entes queridos, a negação da dor e a idealização da memória. A metáfora da pintura, central à narrativa, reflete a tentativa humana de eternizar o que amamos, mesmo que isso nos aprisione ao passado.
A decisão final entre Maelle e Verso não representa apenas o fim de uma missão, mas uma reflexão sobre escolhas difíceis. Manter vivos os fantasmas ou deixá-los partir? O jogo não impõe julgamentos, mas permite que o jogador experimente o peso de cada decisão.